Sociedade - Primitivos Modernos (texto atualizado)
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Foto: (Mara José Cristerna) Instagram/guinessworldrecords/reprodução |
Este conceito surgiu no final dos anos 70, através do artista norte-americano Roland Loomis, conhecido como Fakir Musafar (10-08-1930/ 01-08-2018), considerado o pai do Movimento Primitivo Moderno (Modern Primitive Movement.
Fakir Musafar assumiu-se como pesquisador e explorador ritualístico do seu próprio corpo, que manipulava e modificava através da arte e da espiritualidade primitiva/ tribal, abalando a sociedade pela crueza com que demonstrava o autodomínio do corpo físico e espiritual. Adotou assim o culto das tatuagens e do 'body piercing' (introdução de ornamentos perfurantes no corpo), tendo feito diversas performances pelo mundo inteiro, nomeadamente em Lisboa, em 1997, no Festival Atlântico, tendo influenciado grandemente os jovens portugueses.
Os seus seguidores, “Primitivos Modernos”, não se enquadram nas sociedades, abominam padrões de comportamento preestabelecidos, opõem-se a hierarquias. São absolutamente anárquicos e vivem o quotidiano sem imposições, nem regras. As suas atitudes são reflexo da sua vontade e é a sua vontade que rege a sua vivência diária. Rejeitam a sujeição a horários e o domínio do tempo; o relógio é um objeto dispensável; abominam a hipocrisia do ser humano nas relações interpessoais como forma de gerir relacionamentos. Não acreditam em nenhum sistema político vigente, que julgam causadores de insatisfações no Homem e acreditam neles próprios como seres geradores da felicidade, o objetivo fundamental do ser humano.
Buscam
nas filosofias e doutrinas tribais a sua própria filosofia e adotam posturas
consideradas bizarras pelas sociedades ditas modernas, que os tratam como seres
ineptos do submundo, sem direção, caóticos e subversivos. Porém, grande parte
dos elementos que constituem este movimento são espiritualistas, cultos, têm
licenciaturas ou doutoramentos para os quais estão se baldando, e muitos são
oriundos de famílias ricas e bem posicionadas. No entanto, muitos adotam uma
postura individualista, independentes de grupos ou movimentos que foram,
entretanto, emergindo.
As
modificações corporais evoluíram para atuações extremas capazes de impressionar
o ser humano comum, causando as mais diversas reações e alguns destes
“performers” atingiram a fama, com milhões de seguidores nas redes sociais e exibições
em canais televisivos e passarelas. Destacam-se, entre outros, nomes como o
norte-americano Erik Sprague, o “homem-lagarto”; a mexicana María Jose
Cristerna, a “mulher-vampiro, com chifres de titânio na cabeça; o neozelandês
Lucky Diamond Rich, com o corpo pintado de preto, sem exceções; o canadense
Rick Genest, o “garoto-zumbi”, transformado num esqueleto vivo. E Dennis Avner,
o famoso “homem-gato”, falecido aos 54 anos, em 2012 (supostamente por
suicídio), cujas modificações corporais se perpetuavam desde 2009, e que se
transformara num autêntico felino à data da sua morte.
Se a
sociedade os considera uma provocação pela sua excentricidade, a própria
sociedade mostra insuficiências inter-relacionais e desumanidade nos seus
juízos de valor. Sim, os Primitivos Modernos vestem roupas não
convencionais, pintam a pele, perfuram-na, usam cabelos de tons vistosos e
penteados à semelhança das culturas tribais, por vezes andam descalços, muitos fazem
de casas abandonadas o seu lar, onde vivem sem ideais padronizados de conforto,
cultivam as artes e as letras, a música de garagem, são assertivos, pacifistas,
são contra o ‘assassinato’ de animais para se alimentarem, vivem em regime de
partilha que se estende aos animais domésticos, fazem amor, sorriem, dançam,
choram como qualquer ser humano. E são, na maior parte das vezes, verdadeiros
artistas performáticos. Sim, sim, sim… são tudo isto e muito mais… porém, a
verdade é que têm a coragem de deixar emergir o ‘Ser’; são como são e quem os
aceita, ótimo, caso contrário, estão-se baldando…
Contudo,
pessoas ditas civilizadas, ainda manifestam o seu preconceito, quando os
observam com desprezo e sorrisos mordazes, quando os atingem com “piadas-boomerang”,
pois normalmente os Primitivos Modernos não respondem a provocações.
Existe
um intercâmbio de comportamentos antagónicos gerados por sentimentos de
rejeição de ambas as partes. A sociedade é o fulcro, onde tudo acontece. Há que
respeitar o espaço de cada um e, acima de tudo, a liberdade de uns, desde que
esta não interfira com a de outros.
Os
Primitivos Modernos existem em Portugal, Espanha, Brasil, EUA, Reino Unido, “and
so on”… E porque a ação gera reação, se nos aproximarmos sem hipocrisias, com
aceitação, poderá estabelecer-se um inter-relacionamento revelador. Somos
filhos do mesmo Univeroso.
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